[Análise] Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast para Nintendo Switch

08/10/2019 07:54 por H. Sanchez
Categorias   Clássicos  Nintendo Switch  

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

Não tenho o costume de escrever análises em formas de crônicas sobre jogos, consoles e PC`s, porém acho injusto falar sobre Jedi Knight II: Jedi Outcast, uma franquia de jogos tão querida e presente na minha vida, sem primeiramente tecer um panorama de como era o período antes do seu lançamento. Para tanto, peço que me acompanhem nesta breve jornada a um passado não tão distante assim.

Ah... saudosos anos 90, em meados de 1997 uma parte da molecada já estava se divertindo com seus consoles de última geração, era a época de ouro para quem possuía um PlayStation, Nintendo 64, Sega Saturn, e no caso dos mais afortunados, um Neo Geo, que apesar de ser o único console citado com 16 bit, ainda tinha poder suficiente para apresentar versões fiéis aos fliperamas tão famosos naquela época. Enquanto isso lá em casa, no conforto do meu quarto, estava eu, na mais autêntica versão de “guri de apartamento”, já enjoado de jogar e rejogar os clássicos do SNES e Mega Drive, sonhando com o dia em que conseguiria finalmente “subir de nível” para os 32 bits, quem sabe até 64, porque não?

A questão, caro amigo leitor do Jogorama, é que esse tão sonhado dia nunca chegou... Entretanto nem tudo estava perdido, havia uma esperança no fim do túnel: lembro-me como se fosse hoje de folhear as páginas de uma revista de videogames até que... BINGO! Deparei com uma baita propaganda de um computador com Windows 95, mostrando uma tela de jogos, uma imagem colorida e nítida que me lembrava os visuais da minha tão sonhada “geração 32/64 bits”. Sei que hoje, em pleno 2019, pode até soar absurdo o fato de não ter conhecimento que computadores eram capazes de rodar jogos com qualidade de consoles, mas o fato é que nos inícios dos anos 90 lidávamos com hardwares bastante limitados e apesar de já existirem vários jogos no PC, boa parte dos ports ou versões dos consoles costumavam ser superiores (vejam as versões de Golden Axe ou Mega Man para MS DOS, por exemplo, são bem inferiores à suas contra-partes dos consoles), é claro que alguns jogos se destacavam, inclusive já flertando com polígonos em 3d, mas é fato que as franquias mais aclamadas priorizavam os consoles. Logo, não seria exagero dizer que no início daquela década acabei me focando quase que exclusivamente nos consoles e ignorei boa parte dos games que eram lançados para PC, até o dia em que vi naquela revista o que um computador já era capaz de renderizar, o que explodiu minha cabeça!! O computador da sala da minha casa, antes negligenciado, promoveu um retorno de forma quase “messiânica” na minha vida de jogatina, apresentando games com qualidade técnica e gráfica que não deviam em nada aos consoles de última geração daquele período, isso sem contar os inúmeros emuladores.

Nessa época o PC de casa era um Pentium modesto, originalmente utilizado como ferramenta de trabalho. Ainda lembro das principais especificações: um processador de 120 mhz, 16 mb de RAM, uma placa de vídeo Trident com insanos 2 mb e um HD de 2.1 GB, ah! Já ia me esquecendo da excelente placa de som Creative SoundBlaster AWE32 que logo adicionei ao pacote. Era um hardware honesto e suficiente para rodar todos os games do momento. Foram vários meses de pura diversão jogando diversos clássicos, até que naquele mesmo ano (de 1997), um jogo recém-lançado de Star Wars chamou a minha atenção e me fez sentir imerso naquele universo fantástico pela primeira vez, o game era o “Jedi Knight: Dark Forces II”, exclusivo do PC: possuía gráficos marcantes com modelos em 3D (uma verdadeira evolução em relação ao primeiro Dark Forces, que tinha os modelos em 2D); existiam cenas com cutscenes animadas em live action que surgiam com o desdobrar do enredo; visão em primeira e terceira pessoa alternadas; poderes Jedi incríveis; além de diversos mapas multiplayer, na época cheguei a ser membro de um clã muito amigável de Jedi Knight: foram incontáveis horas de jogatina na madrugada que fizeram minha juventude muito mais divertida.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

Jedi Knight: Dark Forces II (1997) marcou aquela época como um dos primeiros jogos compatíveis com o recurso Direct3D, oriundo das recém lançadas “placas aceleradoras 3D”: placas de vídeo com instruções dedicadas que renderizavam melhor o visual e poupavam trabalho das CPU’s.

Ajustemos o timeskip para o ano de 2002: os computadores já estavam se consolidando como máquinas de jogos, já havia ocorrido a popularização das então chamadas “placas aceleradoras gráficas”, ou para os íntimos “placas de vídeo 3D”: GPU capazes de renderizar modelos e cenários de forma muito mais fluída e agradável aos olhos; o Dreamcast, GameCube, Xbox original e o PlayStation 2 eram exemplos da evolução dos gráficos nesse período, abandonando de vez as texturas e modelos pixelizados em prol do nosso conhecido anti-aliasing. Nesta época meu antigo Pentium já havia dado lugar ao AMD K6-2 550 mhz acompanhado de uma tímida placa de vídeo da 3DLabs de 8 mb.

Foi nesse contexto que em março de 2002 foi lançado o “Jedi Knight II: Jedi Outcast”, desenvolvido pela Raven Software (dos excelentes Heretic, Hexen, o primeiro Marvel Ultimate Alliance e tantos outros clássicos), com o aval e a publicação da saudosa LucasArts. Originalmente concebido para o computador, mas dessa vez recebendo ports para o primeiro Xbox e para o Nintendo GameCube no decorrer daquele mesmo ano.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

Movido pelo motor gráfico id tech 3, mais conhecido como engine do Quake 3, Jedi Outcast proporcionou um visual bastante competente para época (alguns cenários são aceitáveis até mesmo para os padrões de hoje).

Recentemente, no dia 24/09/2019, a Aspyr Media, mesma desenvolvedora/publisher que havia portado o game para Mac OS anteriormente, apresentou uma versão do Jedi Knight II para o Playstation 4 e Nintendo Switch. Nessa análise joguei no console “híbrido” da Nintendo, e em modo handheld quase que 100% do tempo.

Mas então, afinal como é a experiência de jogar Jedi Knight II nos consoles atuais? Respondendo a questão de maneira simplista - a resposta continuaria a mesma de 17 anos atrás: Jedi Knight II é um jogo incrível e posso afirmar de forma categórica que é a melhor “experiência Star Wars” existente no Nintendo Switch, se bem que além desse título só temos outro jogo de Pinball, mas enfim... Isso pode valer também para o Ps4, pelo menos até o “Jedi Fallen Order” dar o ar da graça em 15 de novembro - aí veremos o que a EA nos preparou dessa vez - não que eu esteja muito confiante.

O game foca o gameplay inicialmente na visão em primeira pessoa e pode parecer ligeiramente diferente para quem nunca teve contato com shooters da década de 90: a movimentação do crosshair/ponto de mira se porta de maneira mais fixa. A dificuldade também é um fator que deve ser levado em conta, mesmo no modo de dificuldade “Jedi” (equivalente ao médio/normal), o game apresenta uma dificuldade razoável, acredito também que como estava acostumado em jogar no PC com teclado e mouse, acabei sofrendo um bocado a mais para me acostumar com o jogo usando os analógicos para mirar. Contudo tais diferenças não atrapalham em nada a diversão proporcionada pelo título, e é apenas questão de tempo para se acostumar novamente (com exceção das partes que envolvem pulos em plataformas, essas partes realmente são terríveis com os pequenos analógicos do console da Nintendo). Ainda sobre a mira e jogabilidade, devo parabenizar aos desenvolvedores por terem incluído a “feature” (sempre muito bem vinda) de mirar utilizando o giroscópio do controle do Nintendo Switch, tanto que a utilizei para auxiliar na precisão dos meus disparos, proporcionando um ajuste fino na hora do tiroteio só inclinando o console ligeiramente para cima, por exemplo.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

O game apresentou uma evolução em todos os sentidos em relação ao primeiro Jedi Knight, trazendo o frenesi das batalhas com poderes Jedi e sabres de luz a outro patamar.

O jogo se porta conforme o esperado de um título de 2002, ou seja, roda suave em 1080p a 60 fps na maioria do tempo (em cenários mais abertos e de ação mais intensa podem ocorrer umas ligeiras quedas, também presentes na versão Ps4, mas nada que estrague o ritmo do gameplay). Além do visual ajustado para exibição em telas 16:9 (existe a opção de manter a proposta original em 4:3), nada de novidade houve aqui: gráficos um pouco antiquados para os dias de hoje, mas que trazem a nostalgia e o charme de uma época diferente.

O jogador assume a pele de Kyle Katarn, um mercenário do universo expandido de Star Wars. O charme do gameplay do título é justamente o fato que Kyle consegue manipular a “Força”, o que lhe confere habilidades únicas, podendo inclusive utilizar o sabre de luz (adquirido posteriormente no game). O fato é que o sabre de luz “quebra” um pouco a dificuldade do jogo, pois a jogabilidade (agora focada na terceira pessoa) passa a ser mais dinâmica, e muito mais divertida! “Sair descendo” o sabre de luz em cima de uma dezena de Stormtroopers vai ser pura diversão para o jogador, e foi gigante o salto da melhoria na mecânica do gameplay do lightsaber em relação ao primeiro Jedi Knight. Embora ainda existirão áreas (principalmente mais abertas) onde o uso do bom e velho blaster rifle será mais indicado.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

Espere muitos pulos acrobáticos e “wall runs” nas batalhas contra os aprendizes Siths no Jedi Knight II.

É uma pena que a parte mais maçante do game é justamente sua parte inicial: durante as 3-4 primeiras horas de gameplay, sofremos com uma escolha infeliz do game design: a ausência do sabre de luz e dos poderes torna o jogo um pouco arrastado, punitivo e por vezes cansativo, fato que pode provocar muitos jogadores novos desistirem do game antes dele começar de verdade.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

“Your mind powers will not work on me, boy...” Fazer uso das técnicas da “Força” deixa o combate mais dinâmico (e divertido).

Nem tudo é perfeito, afinal temos um game de outra época, logo seria previsível que algumas mazelas de um jogo de duas gerações passadas persistissem no port. São situações pontuais, tais como fases com o level design um pouco confuso (sem indicações claras para onde ir), menus de escolhas e telas de salvamentos que são exatamente os mesmos de 17 anos atrás: arcaicos e um pouco chatos de se visualizar. Senti falta da opção de alterar o mapeamento do controle, pois sendo um jogo originalmente concebido para ser jogado com mouse e teclado, seria interessante a possibilidade de customização dos comandos (e são diversos comandos, itens e poderes jedi, sendo que todos podem ser úteis na hora da ação). Outro ponto negativo (que na verdade é uma herança característica de jogos daquela época) é o sistema de savegame, pois temos aqui a necessidade de ficar salvando o jogo regularmente devido à ausência de um sistema automático, outra observação é o limite de quantidade de arquivos de save permitidos (somente míseros 5 savegames por vez), obrigando o jogador a ficar deletando os salvamentos mais antigos.

Screenshot de Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast

Outra característica marcante de jogos mais antigos de PC que também está presente no game é a possibilidade do uso dos cheats, proporcionando uma diversão à parte. (Nessa versão, para acessar o menu de cheats basta apertar na tela de pause a sequência: para cima, para baixo, L3, R3, L3).

Não achei a opção de jogo multiplayer no menu do game: mancada dos desenvolvedores. O jogo originalmente no PC possuía modalidade multiplayer online, e até mesmo no Gamecube/Xbox havia a possibilidade de se jogar também em splitscreen contra bots no finado modo “Jedi Arena”. Mas creio que a Aspyr deixou ausente essa opção para chamar mais a atenção para o (re)lançamento do Jedi Academy (continuação direta do Jedi Outcast), que chegará em 2020 e tinha o foco justamente no modo multiplayer.

Encerro a análise indicando o game para todos que curtam o universo Star Wars e estejam a fim de vivenciar uma experiência de ação “old-school” com um FPS recheado de tiroteios com blasters e bowcasters, e ainda experimentar o excelente e divertido combate com o sabre de luz (a cereja do bolo do jogo). Serão aproximadamente 14 a 18 horas de jogo pelo custo de 10 USD (Eshop e PSN EUA) ou R$ 30,90 (PSN Brasil).

Nota: 8/10 Muito bom

Pontos positivos:
- O gameplay com o sabre de luz é realmente muito divertido (um dos melhores até hoje em videogames);
- Nostalgia: o jogo manteve bem os aspectos “retrô” e a essência de jogo de PC antigo;
- Os gráficos apesar de antiquados, envelheceram satisfatoriamente;
- A possibilidade de usar a mira com o giroscópio (Nintendo Switch) é muito bem vinda.
- O preço de R$ 30 é bastante justo pela diversão que o título oferece.

Pontos negativos:
- A parte inicial do game pode ser um pouco cansativa (ao menos até adquirir o lightsaber/habilidades Jedi);
- O sistema de salvamento manual pode incomodar bastante;
- Ausência da possibilidade de (re)mapeamento de botões.


Quer receber as notícias mais recentes do Jogorama?
Siga nossos canais de notícias no WhatApp e no Telegram, e não perca mais nenhuma novidade! Ou se preferir você pode receber por RSS ou pelo Twitter.



Leia também:
Compartilhe: