[Análise] Legacy of Kain:Soul Reaver 1 & 2 Remastered
26/09/2025 06:53 por H. SanchezCategorias Nintendo Switch PC Playstation 4 Playstation 5 Xbox One Xbox Series X|S
Lembro-me de 2001. Era um dia comum, e após a escola, minha missão era simples: passar na banquinha de revistas para ver se algum jogo interessante havia surgido. De repente, uma edição da finada "CD Expert" chamou minha atenção. A capa estampava: "acompanha CD-ROM do jogo Soul Reaver" (e, de quebra, outro disco com alguns demos). Não hesitei e gastei meus R$12. Naquele dia, um sorriso se instalou no meu rosto e não me abandonou por muito tempo. Eu havia descoberto um dos meus jogos preferidos da adolescência:
* apesar da minha história com o jogo se iniciar no ano de 2001, o ano oficial de lançamento do game foi 1999, com versões para Playstation 1, PC e para o Dreamcast, algum tempo depois.
Naquela época, os jogos 3D já eram uma realidade, clássicos como Zelda: Ocarina of Time e Majora's Mask vinham conquistando cada vez mais o público. No entanto, minha introdução ao mundo de exploração e aventura em 3D, no melhor estilo “zelda-like”, só aconteceu justamente com Soul Reaver: Legacy of Kain. O jogo foi fundamental para moldar meu gosto por videogames, mostrando um potencial de narrativa e exploração que até então nunca tinha visto no mundo dos jogos. A versão que acompanhava a revista (para a minha grata surpresa) era totalmente dublada em pt-br, o que facilitou demais o meu entendimento da trama do jogo. Foi incrível poder ouvir todos os diálogos do jogo dublados naquela época, ainda mais se levarmos em conta que o próprio remaster foi lançado originalmente sem a opção de idioma em português ("gafe" que foi posteriormente corrigida após alguns meses do lançamento por meio de uma atualização).
A “franquia-mãe” de Soul Reaver nasceu nos anos 90, durante um período em que a temática “vampiro” começava a se popularizar. Durante esse período surgiram produções notáveis sobre o tema: os filmes “Entrevista com o vampiro” (1994), “Um Drink no Inferno” (1996), as H.Q./filmes “Blade” (1998), além do lançamento da entrada mais aclamada da franquia Castlevania, com o Castlevania: Symphony of the Night (1997). Falando no Symphony, um ano antes do seu lançamento, em 1996, a Silicon Knights viria a apresentar uma nova IP, a qual pretendia construir seu próprio universo vampírico, para tanto a ideia é que o jogo contaria com uma narrativa digna de roteiros de cinema. Na ocasião, o conceito do game acabou virando um ARPG, com visão top-down, de visual isométrico. Esse jogo veio a se chamar Blood Omen: Legacy of Kain. O jogo mostrava a trajetória de um personagem chamado Kain, que após ser traído e morto, foi transformado em vampiro e seguia sedento por vingança contra seus algozes. O jogo era bastante legal e competente, contudo, passou longe da ideia de transmitir a imersão idealizada pelo conceito narrativo.
Pulamos para 1999, os jogos 3d já saltavam nas telas de TV CRT exibindo todo o charme do busto poligonal da Lara Croft, e a equipe da Crystal Dynamics já estava bastante familiarizada com a tecnologia, o que resultou na concretização do conceito inicialmente proposto na primeira entrada da franquia.
Na época, Soul Reaver se destacava por sua estética 'trevosa', um termo que captura bem a essência do termo 'edgy' original em inglês. O jogo foi claramente concebido para um público que apreciava uma temática mais sombria, com uma trama que, para os padrões da época, era mais adulta. As finalizações de inimigos, que envolviam decapitações e empalamentos, e a violência explícita, conferiam uma atmosfera diferenciada e visceral à experiência. Em sua essência, ele pode ser classificado como um jogo de aventura em terceira pessoa com fortes inspirações em Zelda, notáveis no combate, na estrutura de puzzles e na forma como a narrativa se desenrola.
Embora pareça simples para os padrões tecnológicos de hoje, mas na época o que o jogo original trazia de mais inovador em sua mecânica era a possibilidade de alternar entre duas realidades distintas do jogo que corriam em paralelo ao simples toque de um botão (em tempo real), tudo isso, devemos lembrar, estava sendo renderizado em um Playstation 1 (um hardware de 1994). Essa mecânica de transição entre o plano material e plano espectral o diferenciava de todos os jogos, pois era uma camada a mais a ser utilizada para resolver diversos quebra-cabeças do jogo. Tudo isso acontecendo sem qualquer tela de loading, o que era bastante comum naquela época.
Em Soul Reaver, por meio de uma visão em terceira pessoa, você controla o vampiro Raziel, um dos tenentes do lorde vampírico Kain (o mesmo que foi o protagonista do primeiro jogo da franquia, porém agora a história se passa 1500 anos depois). A trama gira em torno do fato de que Raziel logo na introdução do game é morto por Kain, porém o protagonista acaba sendo ressuscitado por um deus ancião que o proclama como seu anjo da morte, que irá buscar vingança contra Kain, que passa a ser o antagonista principal da trama.
A produção do remaster foi responsabilidade da Aspyr Media, que trouxe Soul Reaver 1 e 2 para PC, PS4, PS5, Xbox e Nintendo Switch. A Aspyr já possui um histórico de remasters de qualidade, como os competentes ports de diversos jogos clássicos da franquia Star Wars.
Os jogos foram renovados com gráficos aprimorados, texturas em alta resolução, controles de câmera melhorados e a inclusão de um mapa e bússola para facilitar a exploração. A iluminação e os efeitos visuais estão mais bem definidos, e os modelos dos personagens tiveram um grande upgrade, principalmente no primeiro título, que mostrava mais o peso da idade. Um ponto de atenção são os controles ligeiramente 'truncados', algo que os puristas podem considerar uma característica do original. Para eles, ou para quem quer relembrar, o jogo oferece a opção de alternar para o visual clássico em tempo real, no mesmo estilo de Diablo II Resurrected e Wonderboy: The Dragon's Trap. No entanto, a principal crítica é que os jogos ficaram visualmente mais escuros. Inicialmente, pensei que o problema fosse do HDR do meu monitor, mas relatos de outros jogadores em diversas plataformas confirmam a situação. A versão utilizada para esta análise foi a de PlayStation 5.
Visual original / visual remasterizado (Soul Reaver 1)
Visual original / visual remasterizado (Soul Reaver 2)
Como adiantei no início da análise, tenho uma excelente notícia: a Aspyr, localizou ambos os jogos em português. Além disso, o primeiro título ganhou de volta a dublagem brasileira original, é importante ressaltar o fato de que mais de 4.860 assinaturas de fãs foram mobilizadas no site Change.org, onde pediram a inclusão de nosso idioma.
E o barulho da comunidade brasileira valeu a pena, além de resgatarem esse pedaço histórico da dublagem de jogos nacionais, é possível pela primeira vez jogar o segundo título da série de forma oficial com legendas em português brasileiro.
Uma curiosidade notável sobre o desenvolvimento do remaster é a escolha da Aspyr pela diretora Monika Erősová (também conhecida como Raina Audron). Fã da franquia desde cedo e criadora de um site sobre a lore de Soul Reaver, a paixão e a experiência de Raina foram fundamentais para capturar a essência que tornava os jogos tão marcantes. Além disso, um fato que certamente contribuiu para sua escolha é a participação dela nos remasters de Tomb Raider I-II-III como artista de texturas. É digno de elogio a atitude da Aspyr que, ao contrário de muitas desenvolvedoras que ignoram ou até derrubam projetos de fãs, soube reconhecer e valorizar a comunidade. A empresa chegou a contratar parte da equipe do projeto openLara para a produção dos remasters. Essa iniciativa, que reflete carinho e zelo pelas obras originais, certamente contribuiu diretamente na qualidade dos jogos.
O remaster conta ainda com o acréscimo de diversos conteúdos deletados do jogo original, testes-beta e lost levels literalmente escavados pela equipe de Raina, além de músicas com versões estendidas e artes conceituais com mapas inéditos.
Dado todo o conteúdo extra apresentado e a qualidade embarcada em ambos os títulos, a recomendação é inevitável para quem busca uma aventura clássica, linear e visceral. Essa sugestão se torna ainda mais relevante se o título for encontrado em promoção (o que já ocorreu algumas vezes após o lançamento em 10 de dezembro de 2024).
O título está disponível digitalmente em todas as plataformas de console (Switch, Ps4/Ps5 e Xbox), além de PC (Steam, Epic e GOG); e para os colecionadores de plantão: felizmente no momento da produção deste review o game já se encontra disponível também em mídia física com versões para Playstation 5 e Nintendo Switch, com direito inclusive à uma belíssima edição deluxe (que acompanha steelbook, livro de arte e trilha sonora).
Nota: 9/10 Clássico atemporal
Ficha Técnica
Título: Legacy of Kain: Soul Reaver 1 & 2 Remastered
Plataformas: Nintendo Switch, PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S.
Desenvolvedora: Aspyr
Distribuidora: Aspyr
Pontos positivos:
• Série clássica com narrativa envolvente
• Dublagem em português
• Mecânica inovadora de troca de planos
• Remaster com melhorias gráficas e conteúdo extra
Pontos negativos:
• Controles truncados
• Visual excessivamente escuro
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