[Análise] Resident Evil 2
30/03/2020 18:40 por lacmetalCategorias PC Playstation 4 Resident Evil Xbox One
Olá pessoal, como está o hype para o lançamento do Remake de Resident Evil 3: Nemesis? Alto né? O meu também! Mas antes de termos a oportunidade de ajudar a nossa heroína Jill Valentine a fugir de Raccoon City, agora com belíssimos gráficos e em alta definição, vamos relembrar como surgiu a ideia de retrabalhar o Resident Evil 2 e também fazer uma análise detalhada, sem grandes spoilers, desta belíssima reimaginação do clássico de 1998.
Tudo começou em 2014, quando a Capcom surpreendeu a todos anunciando a remasterização em HD de Resident Evil Remake, que originalmente foi produzido e lançado na primeira metade dos anos 2000 exclusivamente para o Nintendo GameCube. No ano seguinte, outra surpresa, foi a vez de Resident Evil Zero receber uma versão multiplataforma e em HD. Ao quebrar essas exclusividades para os consoles Nintendo, que duraram mais de uma década, muitas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer e curtir como eram os bons e velhos jogos estilo survival horror.
O resultado das vendas desses dois títulos deixou a Capcom bastante satisfeita. Sabendo disso, os fãs iniciaram um movimento na internet pedindo para que um dos mais aclamados jogos da franquia, o Resident Evil 2, também recebesse um remake. Na época o produtor de Resident Evil 6, Yoshiaki Hirabayashi, ao ser indagado sobre essa possibilidade, deu a seguinte declaração:
“Apenas para colocar todas as cartas na mesa, de maneira que não se crie rumores em volta do assunto, não, nós não estamos trabalhando em um remake do Resident Evil 2 no momento. Mas se os fãs realmente quiserem isso; se houver uma onda de apoio para refazermos o jogo, então acho que será algo que a Capcom poderá levar em consideração.”
Foi o suficiente para que uma grande mobilização surgisse na internet, criando petições destinadas à Capcom pedindo a tão sonhada adaptação do segundo jogo da série. Confesso que fiquei bastante cético na época. Minha insatisfação com algumas decisões da Capcom era grande. Mas participei de uma petição, afinal, sonhar não custa nada. E, para nossa alegria, os pedidos foram atendidos!
No mês de agosto de 2015 o canal oficial de Resident Evil do YouTube publicou um vídeo intitulado “Resident Evil 2 Remake – Special Message from Producer “H””, que iniciava com um nostálgico som de máquina de escrever com os seguintes dizeres: “De Divisão 1 de Pesquisa e Desenvolvimento da Capcom Para Todos os Fãs de Resident Evil”. Em seguida aparecia o produtor agradecendo a todos os pedidos e apoio da comunidade de fãs e avisava que a Capcom aprovou o projeto, e abriu sua jaqueta exibindo sua camiseta com os dizeres “We Do it”. Foi emocionante. A vontade que dava era de atravessar a tela do PC até o lado de lá e dar um grande e fraterno abraço naquele jovem japonês.
Muitos meses se passaram e nós sabíamos que o remake do nosso querido RE 2 estava sendo desenvolvido, mas nenhuma novidade era divulgada. Nesse meio tempo a gigante japonesa lançou excelentes jogos de franquias consagradas, como Dead Rising 4, Resident Evil VII, Mega Man 11, sem falar do anúncio de Monster Hunter World e Devil May Cry V, que ajudaram no processo de reconquista dos fãs que estavam insatisfeitos com a política “caça-níquel” que a Capcom vinha adotando nos últimos anos.
Até que, na Tokyo Game Show 2018, pudemos finalmente conferir, pela primeira vez, um trailer do Resident Evil 2 Remake! Foi pura emoção. Tivemos uma pequena amostra de locais que tantas vezes percorremos lá nos anos 90, totalmente repaginados. E ao final, veio a informação que tanto esperávamos. O lançamento estava previsto para o dia 25 de janeiro de 2019.
Chegado o tão esperado lançamento, o mundo finalmente pode conhecer o belíssimo remake de Resident Evil 2. Choveram reviews na internet, mas me mantive alheio a tudo, pois eu gostaria de jogar e poder dar minha opinião sem nenhuma influência externa. Dito isso, vamos para o jogo!
O jogo clássico começava com uma bela cena em CGI para apresentar os personagens. Leon chegava à cidade em um jipe e a Claire pilotando sua moto. Havia personagem chave desconhecido, um caminhoneiro, que tinha participação direta nos acontecimentos deste prólogo. A intro do remake traz de volta o motorista do caminhão, e é nela que podemos perceber o quão realista são os modelos gerados pela RE Engine. Logo após temos uma mescla de cenas cinematográficas em tempo real com momentos jogáveis para introduzir os dois protagonistas. Ambos chegam a um posto de gasolina pouco antes de entrar em Raccoon City. As diferenças para o original são sutis, mas a essência está lá.
Após a explosão que separa os caminhos do policial novato e da jovem que veio à cidade procurar pelo irmão, podemos dar uma conferida nas caóticas ruas de Raccoon City, cheias de carros amontoados e zumbis vagando por toda parte. É de cair o queixo. O caminho até o Departamento de Polícia de Raccoon está bem mais curto do que no original, alterando a linha do tempo de alguns acontecimentos entre o clássico e o remake. A chegada no saguão da delegacia é quase tão épica quanto no original. Um lugar enorme, cheio de estátuas e quadros. O remake explica melhor o motivo de tantas obras de arte no local.
Os files estão de volta, nos ajudando a compreender melhor a trama e o que aconteceu para que o lugar estivesse infestado de zumbis e criaturas, além de ter munição e os escassos itens espalhados por toda parte. É através dos files que podemos nos informar também sobre senhas de cadeados e cofres. Os puzzles também voltaram em grande estilo e farão parte dos desafios do jogo. Muitas vezes teremos de ir e voltar ao saguão, ou em outras salas, o famoso “backtracking”, para resolver quebra-cabeças, coletar itens, salvar o jogo na máquina de escrever e utilizar o baú.
No início da trama temos um pouco de interação com NPCs, o que ajuda a espantar a sensação de total solidão, um deles é novo na história, um policial que afirma ter descoberto uma forma de escapar da cidade, outro é um velho conhecido, o Tenente Marvin Branagh. Agora ele, mesmo ferido, tem maior participação, nos passando informações e monitorando a situação da delegacia a partir de um notebook no hall de entrada.
Os corredores da delegacia estão muito mais assustadores e escuros. A equipe de desenvolvimento não se limitou apenas a criar uma versão melhorada das passagens. Algumas rotas estão diferentes, obstruídas por barricadas, fazendo com que alguns locais deixarem de existir, dando espaço a novas áreas.
A jogabilidade foi totalmente reformulada, mas não se trata de um jogo de ação, como ocorreu em Resident Evil 4. Apesar de a câmera lembrar bastante a “over de shoulder”, inaugurada pelo próprio Leon no 4º jogo da franquia, o produtor Tsuyoshi Kanda, em uma entrevista durante E3 de 2018, explicou o seguinte:
“Não vai ser um jogo de tiro sobre o ombro; será uma câmera claustrofóbica tensa que ainda traz a experiência de terror, apesar de ser um novo estilo para Resident Evil 2.”
E de fato isso é perceptível logo nos primeiros embates contra zumbis, que agora estão mais resistentes do que em qualquer outro jogo da franquia. O fato de a câmera facilitar a mira diretamente na cabeça dos inimigos, mas nem tanto, pois eles se movem de forma bastante irregular, tornaria o jogo muito fácil. Creio que seja essa a explicação lógica para que precisemos às vezes gastar um pente inteiro num só adversário cambaleante. E um dos pontos altos da mira de Resident Evil 2 Remake, em relação aos jogos da série que inauguraram a câmera sobre o ombro, é a possibilidade de mirar e andar ao mesmo tempo.
Os Lickers estão de volta, mas agora são chamados de Carnífices. Continuam assustadores, fortes e mortais, mas, felizmente, no remake eles são cegos como morcegos, então é possível utilizar da furtividade para passar por eles sem ter de gastar munição. Mas não é tão fácil, o menor ruído feito pelo personagem, os Carnífices entram em estado de alerta e atacam. Alguns inimigos clássicos ficaram de fora. Os corvos, por exemplo. Entendo a decisão dos produtores de descartá-los. Se em eventuais situações de apuros fica complicado até para mirar num zumbi, imagina como seria tentar atirar naquelas aves menores e de vôos muito mais irregulares? As aranhas, que no jogo original apareciam nos esgotos, também não estão no remake, mas suas ausências foram supridas por um inimigo bastante assustador e que também pode envenenar os protagonistas.
O vilão mor do jogo, William Birkin, está incrivelmente assustador. Todas as etapas das suas mutações estão presentes, algumas novas, e bastante nojentas! As batalhas não são tão difíceis. Alguma são adaptativas requerendo mais o uso dos cenários do que de munição. Lembram do crocodilo gigante? Já dava medo lá na época dos 32-bits, né? Imaginem agora...
Por falar em inimigos, não posso deixar de falar dele. Mr. X. Ele está de volta. No Resident Evil 2, de 1998, este Tyrant aparecia somente no lado B. No Remake ele aparece tanto na primeira, quanto na segunda jornada. E dessa vez não há cena em CGI o introduzindo misteriosamente no jogo, ele aparece de forma repentina e nos assustando de tal maneira que a única reação que temos é a de dar meia volta e sair correndo sem olhar para trás. Você pode até tentar encará-lo, mas não adianta atirar nele, ele não vai morrer. O máximo que se consegue é, depois de muitos tiros, neutralizá-lo por alguns segundos para que assim possamos fugir e despistá-lo. Vale lembrar que a partir do momento em que ele começar a aparecer durante gameplay, ele vai passar a segui-lo o tempo todo. É possível ouvir seus passos pesados por toda a delegacia. Quando estes estão mais abafados, significa que a barra está limpa, ele está longe. Quando os passos estão altos e com eco, significa que ele está no mesmo ambiente. Se além dos passos altos a música ficar tensa, é porque ele te viu... então é melhor correr...
Os assustadores passos do Mr. X são um dos diversos elementos que incrementam a atmosfera de terror do jogo. A sonoplastia foi incrivelmente bem produzida e implantada nos ambientes. O tempo inteiro ouvimos ruídos e sons que nos deixam apreensivos. Muitas vezes os zumbis gritam, emitindo um guinchado parecido com o de um animal, nos dando sustos tremendos. As músicas são excelentes e ajudam a dar o tom de tensão da trama. Todavia, para os mais saudosistas, o menu de opções do jogo oferece a possibilidade de trocar as músicas compostas para o remake pelas clássicas da época do PlayStation. Nessa hora a nostalgia bate forte.
Assim como no jogo clássico, Resident Evil 2 remake se passa em diversos locais da cidade de Raccoon. A história se passa primeiramente nas ruas até chegarmos ao Departamento de Polícia. Lá é onde passamos a maior parte do jogo. Logo após, passamos brevemente pelo estacionamento da delegacia até chegarmos nos esgotos. Passando pelos esgotos é que chegamos aos laboratórios, parte final do jogo. A diferença é que alguns cenários são maiores no original e mais curtos no remake, já outros ganharam maior destaque no remake uma vez que eram mais breves no original. Os personagens secundários, Sherry e Ada, também estão presentes na trama e são jogáveis em determinados momentos. A parte em que controlamos a pequena e frágil Sherry traz um cenário totalmente inédito, que é o orfanato. Uma novidade muito bem-vinda, porém, muito curta.
No jogo original haviam dois cenários jogáveis, A e B. Podemos optar por jogar primeiro com o Leon ou com a Claire e depois de terminá-lo, habilitar o lado B. Cada um deles era bastante distinto um do outro, sendo o lado A o mais amigável para um iniciante e o lado B mais complexo, maior, com dificuldade elevada e repleto de extras interessantes. O remake segue com essa possibilidade, porém, agora os cenários foram nomeados como jornadas. A grande diferença em relação ao clássico de 1998, e que muitos críticos viram como o maior defeito do jogo, é que as jornadas 1 e 2 têm muito pouca diferença entre elas. E quem jogar ambas atentamente, pode captar algumas inconsistências na linha do tempo entre os eventos de uma e outra.
Resident Evil 2 Remake é uma belíssima produção, feita com muito cuidado e respeito de fãs para fãs do clássico que de PlayStation, que é até hoje considerado não somente o melhor da primeira trilogia, como também o melhor de toda a franquia. O clima de terror do Remake é na medida certa, não sendo exagerado a ponto de matar alguém do coração, nem abaixo dos padrões aceitáveis para os admiradores do bom e velho survival horror. O medo e a tensão durante o gameplay geralmente são superados pela adrenalina de percorrer pelas salas e corredores da delegacia, bem como das demais localidades do jogo, pois a cada progresso que fazemos no gameplay, ganhamos mais confiança. Essa confiança nos é transmitida através da determinação dos personagens, cujo carisma continua nos contagiando, bem como acontecia lá nos anos 90. Resident Evil 2 foi um grande merecedor do título de Game of the Year de 2019. Não aconteceu, mas para nós tanto faz, é um jogaço de qualquer maneira. Que venha agora o Resident Evil 3: Nemesis Remake. Estamos bem preparados após jogar o 2!
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